sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Compreender a ejaculação prematura



— O que é ? —
Do ponto de vista clínico, é extremamente dificil definir a síndrome da Ejaculação Prematura. A sua característica essencial consiste no persistente ou recorrente início do orgasmo e ejaculação com estimulação sexual mínima, antes, durante ou imediatamente após a penetração sem que a pessoa o deseje nesse momento.
A Ejaculação Prematura é a mais frequente das disfunções sexuais masculinas, com uma prevalência que atinge, nos países europeus e norte-americanos, cerca de 30%-35% dos homens, independentemente da idade. Os homens que costumam procurar ajuda, na nossa clínica, devido a este problema estão na faixa dos 18 aos 40 anos de idade.
Antes de ejacular o homem tem uma sensação proprioceptiva (que varia de indivíduo para indivíduo) que “avisa” que “daqui a pouco haverá a ejaculação”. No caso dos homens com Ejaculação Prematura, geralmente, ocorreu um erro na aprendizagem destas sensações nas primeiras experiências sexuais.
Com a experiência sexual e com a idade, o homem vai “refinando” a sua capacidade para atrasar a ejaculação. No entanto se essa aprendizagem foi mal feita à partida, deverá haver uma “reaprendizagem”, geralmente recorrendo a um terapêuta.
Existem situações de perda da capacidade para atrasar o orgasmo depois de um período de funcionamento adequado. Geralmente esta situação ocorre após uma redução de frequência da actividade sexual, intensa ansiedade de desempenho com o novo parceiro ou perda do controlo da ejaculação relacionada com a dificuldade de atingir ou manter a erecção.
Alguns homens são capazes de atrasar a ejaculação num relacionamento mais prolongado, mas voltam a ter Ejaculação Prematura perante um novo parceiro.
Alguns homens que abandonaram o uso regular de álcool podem desenvolver Ejaculação Prematura porque confiavam nos hábitos alcoólicos para atrasar o orgasmo, em vez de aprenderem estratégias comportamentais.

 — As causas —
 Algumas destas pessoas referem ainda que as primeiras experiências sexuais ocorreram de forma traumática:
Causa psicogénica (psicológica)
Na maioria dos casos a causa da Ejaculação Prematura é psicológica. Há muito que se sabe que a ansiedade acompanha este problema sexual. No entanto, é difícil dizer se a ansiedade é causa ou consequência de Ejaculação Prematura.
Nestes casos a Ejaculação Prematura é provocada por dificuldades psicológicas temporárias, tais como, depressão reactiva, timidez sexual, pressão por desempenho sexual, problemas profissionais e financeiros, problemas anteriores com a erecção durante acontecimentos importantes da vida, como troca de parceiro após uma separação ou períodos de stress.
A primeira experiência sexual é uma experiência crítica para o homem. A introdução do pénis desencadeia um programa gestual instintivo, seguido por movimentos rápidos que culminam na ejaculação. Isto deixa marcas muito importantes. Quanto mais rápida for a primeira experiência sexual, maior é a probabilidade de que este sintoma permaneça estável ao longo da vida do indivíduo.
Pode também ocorrer numa relação sexual eventual e o indivíduo fica tão preocupado que passa a encarar a relação sexual seguinte como uma avaliação do seu desempenho sexual. Torna-se, assim, observador do próprio desempenho sexual e isso resulta num novo fracasso. Surge então o temor de novos fracassos. Este é o início de um círculo vicioso que o condiciona à ejaculação prematura.
Este círculo vicioso tem alguns factos determinantes: a forma como ocorreu a primeira experiência sexual, seja por falta de experiência, ansiedade, medo, desconforto ou simplesmente desconhecimento, é a principal causa de uma resposta ejaculatória prematura. O homem que na sua actividade sexual acredita que se “portou mal” não tem em conta o facto de que se trata de uma primeira experiência sem nenhuma aprendizagem prévia. A ansiedade de desempenho faz com que este indivíduo esqueça que está a percorrer um caminho onde a tentativa, o erro e o acerto são pré-requisitos para um desempenho eficaz.
Alguns homens afirmam que a sua auto-estima foi abalada porque a mulher com quem estavam teceu algum comentário desagradável sobre o seu desempenho sexual.
Numa próxima vez, este homem pretende uma espécie de “vingança”, e isto é feito com insegurança por causa das lembranças da experiência anterior. Em vez de ser prazerosa e relaxante, esta segunda relação sexual torna-se uma cobrança stressante como se fora uma prova escolar. Desta maneira, é reforçada a ansiedade original e, por medo de falha no desempenho, mais uma vez este homem apresenta uma resposta sexual rápida.
Relações sexuais com prostitutas
Relações sexuais rápidas com medo de ser apanhado pelos pais  

— Critérios de Diagnóstico —
O facto de ter mantido as primeiras experiências no banco de trás do carro, de forma desconfortável e com medo de ser descoberto
Masturbação rápida
Excesso ou falta de preocupação com o prazer da parceira
 Os transtornos do relacionamento:
Dificuldades de ajuste interpessoal;
Exigências excessivas da parceira;
Reacção face a situações de infidelidade;
Ciúmes
Hipersensibilidade interpessoal;
Comunicação deficiente;
Expectativas matrimoniais irreias

Causa orgânica
A etiologia orgânica é relativamente rara, quase sempre devido a processos inflamatórios e/ou infecciosos da próstata e vesícula seminal, tais como:
Prostatite;
Uretrite;
 Também pode dever-se a uma glande hipersensível ou a um freio curto.
 Há casos de Ejaculação Prematura em indivíduos com:
 Epilepsia;
Esclerose múltipla;
Polineurite;
Diabetes melito
Doenças Tireóideas;
Fracturas Pélvicas
Submetidos a cirurgia aórtica
Espinha bífida
Outras doenças medulares
Outros factores

Pode dever-se à acção de certas drogas ou medicamentos, como anfetaminas, cocaína, nicotina e alguns alucinogénios.

Medicamentos que aceleram a ejaculação:
Antagonistas serotoninérgicos:
Ciproeptadina
Pizotifeno
Metisergida
Granisetron
Iombina
DHEA (desidroepiandrosterona)
Testosterona
Dopamina e agonistas dopaminérgicos      
Suspensão abrupta da medicação – a interrupção abrupta de antidepressivos do tipo inibidores selectivos da recaptação da serotonina, como a trifluoperazina e de determinados narcóticos e opiáceos após um período longo de tratamento, podem dar origem a Ejaculação Prematura.
Pode também estar associada a Desejo Sexual Hipoáctivo ou a Disfunção Eréctil.

Na Classificação de Transtornos Mentais (CID-10) a Ejaculação Prematura é definida como:
Ejaculação com estimulação sexual mínima, persistente ou recorrente, antes, durante ou pouco depois da penetração, e antes que a pessoa o deseje.
Incapacidade de controlar por tempo suficiente a ejaculação para que os dois parceiros desfrutem da relação sexual.
Deverá ter uma duração mínima destes sintomas durante pelo menos 6 meses.
Segundo a American Psychiatric Association (APA) são considerados os seguintes critérios de diagnostico:
A perturbação provoca acentuado mal-estar ou dificuldade interpessoal.
A ejaculação precoce não se deve exclusivamente aos efeitos directos de substâncias (por exemplo, abstinência de opiáceos).

 — Tipos —
Existem dois tipos de Ejaculação Prematura:  
Primária – quando surge no início da actividade sexual. A ejaculação prematura primária é quase sempre devida a um erro na aprendizagem das primeiras relações sexuais. Neste mecanismo cria-se um círculo vicioso: o indivíduo reage mais rápido, aumenta a ansiedade, favorece a ejaculação prematura e bloqueia o potencial que permite o prazer sexual.
Secundária – quando se instala num momento tardio da actividade sexual. Os factores desencadeadores da ejaculação prematura secundária estão relacionados com tudo o que é inerente à terminologia de stress, característica da sociedade actual, em que o prazer erótico se encontra ligado ao sucesso e ao poder. Ou ainda ao tipo de vida consumista, com os seus hábitos tóxicos (álcool; drogas; estimulantes; tabaco; etc), poucas horas de descanso ou falta de exercício físico. O elevado grau de ansiedade desencadeia uma grande frustração, que faz aumentar a ansiedade antecipatória a próximos fracassos.

  — Tratamento—
Vários autores afirmam que a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) deve ser aplicada a todas as formas de Ejaculação Prematura. O recurso a fármacos só deve ser prescrito para os casos de Ejaculação Prematura de causa neurológica, decorrentes de traumatismo físico irreversivel, decorrentes de inabilidade psicosexual e, talvez, aqueles com outra disfunção sexual associada.
Embora diversos autores reconheçam que existem medicamentos que poderão retardar o reflexo ejaculatório, é consenso que:
“Nenhum fármaco isolado trata a ejaculação prematura, não existindo um tratamento único que seja plenamente eficaz. Não podemos esquecer que o recurso a medicação prolongará o tempo de latência ejaculatória enquanto o tratamento farmacológico for utilizado, contudo, não há evidências de que a melhora perdurará após a suspensão da mesma. Por outro lado, existe a possibilidade de um efeito adverso, que pode ocorrer após a supressão da medicação, e a recaída é a norma nesses casos.”
Os ejculadores prematuros, de modo geral, sabem que na segunda relação sexual, praticada no mesmo dia, existe um tempo ejaculatório mais prolongado e, por isso, alguns deles masturbam-se antes do coito. Esta abordagem, entretanto, tem o inconveniente de que à medida que o homem envelhece, o período refractário absoluto se prolonga, além de ser necessário um grau maior de estimulação para ocorrer a erecção peniana. Assim sendo, o problema é postergado e a mulher pode perder o desejo sexual devido à dificuldade e à pouca retribuição em termos de prazer que obtém do parceiro, somando mais uma difunção sexual.
Objectivos da Terapia da Ejaculação Prematura:
Aprendizagem ou reaprendizagem do controlo ejaculatório;
Diminuição da ansiedade;
Melhorar a comunicação do casal;
Melhorar a autoestima.

Para marcação de consultas da especialidade:
Dr. Fernando Eduardo Mesquita
Policlínica do Areeiro
Av. Guerra Junqueiro, N.º 15 – 2º Andar
1000-166 Lisboa

Tel: 969091221
Tel: 218439319

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